Trabalho apresentado na Mesa 4 – Jornalismo, tecnologia e estudos do meio do 4º Congresso Internacional Media Ecology and Image Studies (MEISTUDIES 2021 – GENEM/UNESP Bauru/SP e UTPL – Equador).
Resumo
A pandemia de Covid-19, decretada em março de 2020, impactou de forma severa as mais diferentes esferas da vida humana, em especial o mundo do trabalho. No âmbito específico do jornalismo, foi possível observar, em escala global, empresas de todos os portes e modelos de negócio implementarem estratégias para lidar com a contingência de ordem sanitária, alterando um sistema de rotinas produtivas marcado pelas interações presenciais em suas dependências (as chamadas “redações”) por outro estruturado em redes tecnológicas que viabilizam o teletrabalho (ou home office). Surgiram assim as “redações distribuídas”, assim definidas devido ao seu caráter descentralizado por Trewinnard (2020), Radcliffe (2021) e outros pesquisadores do campo.
Tanto empreendimentos que conciliam operações de legado e digitais quanto os chamados “nativos digitais” foram submetidos a processos que alteraram seus fluxos de trabalho. Decorridos aproximadamente um ano e seis meses após a decretação da pandemia pela Organização Mundial da Saúde, é possível observar, ao menos em parte das empresas jornalísticas, uma retomada (ainda que parcial) das atividades presenciais. Em uma primeira etapa, as redações foram esvaziadas e um sistema quase que integralmente remoto passou a funcionar a partir do uso intensificado de programas de videoconferência – a exemplo do Zoom – e de ferramentas de trabalho colaborativo, como o suíte de aplicativos Google Workspace. Posteriormente, em um segundo movimento, alguns veículos permitiram um retorno gradual ao ambiente físico, adotando medidas de prevenção ao coronavírus.
Considerando as incertezas que ainda persistem no cenário atual, Katharine Viner, editora-chefe do inglês Guardian, prevê (conforme Nalvarte, 2021) uma adesão definitiva do jornal a um modelo híbrido de trabalho mesmo após o controle da pandemia. Ao mesmo tempo, no Brasil, um interessante caso de adaptação pode ser observado no jornal digital Poder360, especializado em Política, que primeiramente se reconfigurou para um teletrabalho integral. Entretanto, ao investir em uma nova sede em Brasília (DF), inaugurada em julho de 2020 (Poder360, 2021), seguiu as recomendações feitas pelas autoridades sanitárias e planejou o espaço de forma a evitar aglomerações de colaboradores, estabelecendo o retorno gradual a um espaço físico assegurando o distanciamento social recomendado pelas autoridades sanitárias a fim de evitar o contágio pela Covid-19.
Também há casos em que as redações fixas foram definitivamente deixadas de lado, tendo estas sido substituídas por ambientes mais flexíveis. O jornal El Observador, do Uruguai, por exemplo, passou a utilizar espaços de coworking (Herrero, 2021), enquanto que o grupo britânico Reach anunciou uma estratégia que prevê a utilização de hubs de trabalho temporário (Gurgel, 2021).
Entende-se que o presente panorama, sujeito a mudanças em razão de fatores diversos relacionados à pandemia (a exemplo do processo de vacinação, em velocidade lenta no Brasil ao longo de 2021), se configura como uma oportunidade singular para o estabelecimento de estratégias que preparem as redações jornalísticas para o futuro, visando tanto retomadas seguras de atividades presenciais em outras contingências sanitárias quanto a realização de procedimentos de trabalho mesmo fora de espaços fisicamente delimitados. A tecnologia é um elemento fundamental para o êxito desse processo de hibridização, mas uma mudança de cultura organizacional dessa magnitude não pode jamais prescindir do fator humano.
Palavras-chave: Jornalismo; Redações Distribuídas; Estratégias de Redação; Sistema Híbrido; Trabalho Remoto.
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